Eu Li: Selva Concreta - Edyr Augusto
13 de novembro de 2020
Título:Selva ConcretaAutor:Edyr AugustoEditora:BoitempoAno:2012Ambientado em Belém, o romance traz incômodas semelhanças com a experiência urbana de qualquer cidade na periferia do capitalismo. Explorando as patologias e os vícios do submundo próprios às metrópoles brasileiras, marcadas pela má distribuição de renda e pelo abuso de poder, Edyr compõe um retrato inusitado e desconfortante do Brasil contemporâneo. O fluxo intenso da narrativa submerge as múltiplas fisionomias da obra na cadência fragmentada da cidade: o policial corrupto, o playboy, o apresentador de TV picareta, o radialista ávido por um furo de reportagem, o cagueta, o assassino de moças, a cantora queridinha, a mulher do malandro, o boa-praça e outros tipos compõem o universo urbano de quem vive em uma “selva concreta” marcada pela violência que vemos nas manchetes policiais e pela sujeira que está por trás delas.
Durante a quarentena dei giros e giros entre gêneros literários e as indicações que tenho dado no blog servem de testemunha. Comecei "Selva concreta" no dia das bruxas, bem no final de outubro, pois queria uma história da vibe do terror.
E, nesse caso, um terror que perpassa a realidade de forma brutal.
Edyr Augusto tem o perfil de apresentar em ficção algo que não está só em nosso imaginário. Basta dar uma olhadinha no jornal que conseguimos visualizar traços de suas histórias.
Por Fernanda Karen
Convite: Eventos Literários da Semana
4 de março de 2020
Olá, leitores!
Más línguas dizem que o ano só começa oficialmente quando termina o carnaval. E não é que pra gente meio que foi verdade?
A partir dessa semana voltamos oficialmente com os conteúdos aqui no blog e vamos nos esforçar para permanecer com vocês, mesmo que seja semanalmente. Então voltem sempre aqui conosco, hein!
E hoje serei portadora de boas notícias!
Esta semana está REPLETA DE EVENTOS LITERÁRIOS!
Fiz uma lista sobre os eventos e algumas informações sobre eles.
Vem conferir!
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Vem aqui |
Por Fernanda Karen
Feliz aniversário, Belém! 5 livros na cidade das mangueiras
12 de janeiro de 2019
A cidade de Belém, que já foi conhecida como "Santa Maria de Belém do Pará" ou "Nossa Senhora de Belém do Grão Pará", completa 403 anos de fundação neste dia 12 de janeiro!
O contexto histórico de nossa cidade é incrível e apaixonante, como momentos bons e ruins, claro, e sou completamente apaixonada por minha terra.
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E apesar da alergia a camarão, como mermo. |
Pensando nessa paixão, resolvi trazer alguns livros de autores paraenses que tem suas histórias desenvolvidas aqui pela cidade das mangueiras.
Desde já, peço dicas de leitores que conheçam outras obras para trocarmos informações, tudo bem?
Então, vamos lá!
Por Fernanda Karen
Eu li: Moscow - Edyr Augusto
20 de abril de 2016

Título:MoscowAutor:Edyr AugustoEditora:BoitempoUm jovem marginal envolvido com gangues, sexo, drogas e crimes é o personagem central deste romance ambientado na praia do Mosqueiro, no Pará. O ritmo bem marcado, a linguagem seca e por vezes dura de Edyr Augusto chegam a asfixiar, de tão reais. O autor nos apresenta sem paternalismo personagens cruéis, verdadeiros, sem compaixão. Gente que poderia ser encontrada em Belém, São Paulo ou Rio de Janeiro, cuja força dramática impregna todas as páginas do livro. Moscow é uma história de suspense, narrada com uma oralidade singular - a linguagem falada em Belém do Pará. Um livro para ser lido de um fôlego só.
Se você leu a resenha da Fernanda sobre "Pssica" (leia aqui) já deve estar imaginando um pouco sobre o conteúdo desse livro. Moscow foi o primeiro livro que eu li do Edyr Augusto e em um resumo simples, pode-se dizer que é uma facada rápida no estômago. É um livro curtíssimo (65 páginas); que você não consegue parar de ler por causa do ritmo com que as coisas vão acontecendo com o protagonista; e extremamente violento.
Para quem não sabe, há uma ilha próxima de Belém, que é um distrito e é muito popular por suas praias de rio e água doce. É a ilha de Mosqueiro ou "Moscow" para os mais chegados. Toda a ação do livro se passa por lá, daí o título. O protagonista é um jovem sem nome de Belém que possui alguns problema com sua família (seus pais o ignoram) e está passando sua férias em Mosqueiro. Mas o conceito dele de férias na ilha envolve muito mais que simplesmente passar os dias na praia. Ele passa o tempo andando com seus amigos pelas praias e realizando desde pequenos delitos, furtos e roubos, até assassinato. Edyr Augusto já mostra a que veio logo no primeiro capítulo onde o protagonista conta como ele e seus amigos estupraram e roubaram um casal que namorava a beira praia.
Aquela brisa tinha um sabor especial. A gente sempre fazia isso. Às vezes nem dava certo. Hoje ia. Os barrancos perto da Praia Grande. Ficava para trás sempre um boy desses, procurando empregada. Era tiro e queda. Lá estava o garoto no escuro. (...) Eu fiquei com a gata. Naquele escuro, eu precisado.
A violência vai crescendo de forma gradual e em pequenos capítulos. O protagonista passa vários dias em que não faz nada além de beber, ir na casa de amigos ou tentar conquistar uma garota. Mas as vezes decide do nada quem está irritado o suficiente para matar a pessoa que está ao lado dele. E não há limites para o que é descrito. O livro é brutal e terrivelmente real, narrando brigas extremamente violentas a estupros de crianças e grávidas. E, a medida que você avança cada vez mais na trama, percebe o quão psicopata e louco é o protagonista. Simplesmente não há objetivo, é a violência pela violência e pelo prazer.
Não sei o que quero, mas não invejo nada. Nem esses mauricinhos que passam de carro, com roupas da moda. Tenho meu jeans, minha bermuda, meu tênis. Tá bom.
A linguagem é um dos pontos altos do texto. Bem regionalista, suja e com frases curtas, marcas registradas do texto de Edyr Augusto. Se você pensar na realidade que filmes como Cidade de Deus e Tropa de elite trouxeram para as telas, essa mesma realidade pesada está impressa nas página de Moscow. A diferença aqui é que, apesar de lembrar muito os filmes brasileiros com violência urbana, há um certo prazer na violência praticada pelo protagonista. Muitos dos assaltos e delitos praticados nem valem pelo lucro em si, mas pela agressão que foi realizada.
Passei lá na Praia Grande sem nem ligar se o casal da véspera estava por lá. A galera já estava no Barba. Ficamos de boba até umas duas. Apareceu o Tomás. Ele precisava da gente. Um cara mexeu com a irmã dele. Mais forte. Apanhou. Agora queria uma forra. O cara é de uma gangue, mas a gente não bota fé. Vamos?
Em resumo, Moscow é um livro bem cruel, brutal e, infelizmente, totalmente real. A narrativa, apesar de terrível prende e o final é imprevisível. Se você curte esse tipo de leitura, é altamente recomendado. Minha nota final:
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Por Victor Rogério
Eu Li: Pssica - Edyr Augusto
7 de março de 2016
Título:PssicaAutor:Edyr AugustoEditora:BoitempoUma adolescente é raptada no centro de Belém do Pará e vendida como escrava branca para casas de show e prostituição em Caiena. Um imigrante angolano vai parar em Curralinho, no Marajó, onde monta uma pequena mercearia, que é atacada por ratos d'água (ladrões que roubam mercadorias das embarcações, os piratas da Amazônia) e, em seguida, entra em uma busca frenética para vingar a esposa assassinada. Entre os assaltantes está um garoto que logo assumirá a chefia do grupo. Esses três personagens se encontram em Breves, outra cidade do Marajó, e depois voltam a estar próximos em Caiena, capital da Guiana Francesa, em uma vertiginosa jornada de sexo, roubo, garimpo, drogas e assassinatos.
“Pssica” é o primeiro livro que leio de Edyr Augusto. O
autor é paraense e o conheci pelos cafés da vida (mais especificamente, no da
FOX), mas tive um contato mais forte com sua obra em conversas com Felipe
Larêdo, que me indicou alguns livros na 2ª edição da Feira Literária do Pará,
que aconteceu ano passado (saiba mais aqui). Felipe foi sincero ao dizer
“talvez doa”.
Bem, com certeza doeu.
Pssica no dicionário
papa-chibé significa maldição. Portanto, pssica é uma praga que é rogada para
atingir as pessoas. Pode parecer coisa de louco mas há quem acredite piamente
nessa superstição. Principalmente os personagens dessa história.
O enredo já começa para estremecer e nos dá duas histórias
paralelas que se cruzam no Pará.
A primeira é de uma moça que tem um vídeo íntimo exposto na internet e é
expulsa de casa pelos pais. Vai morar com uma tia perto do centro comercial de
Belém e lá conhece uma mocinha nada flor-que-se-cheire. Acaba caindo nas mãos dos
que coordenam o trafico de mulheres. A segunda é de um africano com sotaque
forte que o povo insiste em chamar de “Portuga”. Ele foi parar pelo interior,
em Curralinho, onde se casou e viveu bem por vários anos, até que uma quadrilha
de ratos d’água assaltam seu comércio e levam sua mulher. Ela acaba brutalmente
torturada e morta. Portuga, ao lado de um companheiro, saí atrás dos
responsáveis com sede de vingança mas tudo que vai encontrar é mais desgraça.
O enredo é repleto de pequenos casos e vários personagens
com histórias muito infelizes. No entanto, é perceptível que o autor não quer
se portador de boas notícias e o leitor pode perceber isso logo nas primeiras
páginas. “Pssica” é um livro pequeno para muita desgraça e o que mais dói é que
as histórias aqui contadas não são propriamente fictícias. Ignoramos o
suficiente para levarmos a vida de forma normal, mas bem pertinho de nós - no
Brasil, no Pará, em Belém - há violações acontecendo, talvez, nesse exato
momento.
Edyr Augusto vai falar sobre tráfico de mulheres, prostituição, corrupção e desinteresse de gestão pública de uma forma tão crua e direta que 94 páginas foram o suficiente.
A literatura tem o poder de despertar o leitor para o invisível e tirá-lo de
sua zona de conforto para ver que a realidade é mais do que vemos da nossa
janela. Em geral, todo livro tem esse poder, mesmo as fantasias, pois acabamos
sentindo empatia pelos personagens, compreendendo suas motivações e, muitas
vezes, sofrendo com eles. Mas Edyr Augusto pegou todos os mecanismos viáveis em
“Pssica” e nos deu uma ficção com ares dolorosamente realistas.
O livro é composto por capítulos curtos, numa prosa
singular. A linguagem é bastante regionalista, com vários palavrões e termos
pontuais usados no Pará, o que achei bem propício para a proposta da história. Os
parágrafos são cheios de frases curtas e diretas e não há indicação de diálogo,
por mais que eles aconteçam; A própria leitura deixará a intenção dos discursos
dos personagens obvia. Não sei se foi intencional para acelerar o ritmo de
leitura, deixando o livro ainda mais aflitivo, ou se é apenas o estilo do
autor. Mas posso garantir que descobrirei em breve, pois as leituras de Edyr
Augusto se tornaram obrigatórias.
“Pssica” é um livro cruel que aborda realidades tão distantes, e ao mesmo tempo tão próximas, que se sobrepõe uma angustia inevitável e pontualmente saudável. Precisamos nos importar.
Edyr Augusto lançou “Pssica” em 2015, pela Editora Boitempo,
mas já tem vários livros aclamados, como “Os éguas”, de 1998, e “Moscow”, de
2001. Sua obra foi traduzida na França, no México, no Peru e na Inglaterra. E
em 2015, recebeu o prêmio Caméléon de melhor romance estrangeiro, por “Os
Éguas”, que foi traduzido com o título de “Belém”, na França.
Creio que esse reconhecimento é apenas um indicador que precisamos ler Edyr
Augusto.
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Por Fernanda Karen
Pai D'égua
É uma expressão comumente utilizada no Pará no sentido de qualidade positiva; Interjeição de admiração. Alguns sinônimos são: Bom, ótimo, fantástico, excelente.