Na Tela #18: A Igreja do Diabo/A Comédia Divina

Olá, pessoal, vamos falar de mais adaptações? Essa provavelmente passou despercebida por muita gente. A Igreja do Diabo é um conto do livro Histórias sem Data de Machado de Assis e ano passado foi adaptado para o filme A Comédia Divina. Quer saber mais? Vamos lá!


A Igreja do Diabo é uma conto curtíssimo (tem 5 páginas), mas genial de autoria de Machado de Assis. Atualmente o texto está em domínio público e pode ser lido AQUI. De uma forma ácida que só o Machado sabia fazer, é narrada a história de quando o Diabo, percebendo que sua popularidade estava diminuindo, resolveu descer a Terra e abrir sua própria igreja. Antes, é claro, ele foi avisar a Deus sobre seus novos planos e como ele iria criar uma crença onde tudo era permitido e o pecado era incentivado e recompensado. O conto em si fala muito sobre a dubiedade e a contradição humana que é comum nos textos do Machado.


Eis que em 2017, o conto foi adaptado para o roteiro do filme A Comédia Divina (referências a Dante, hein?). O Filme mantém a mesma premissa: um Diabo hilário, interpretado pelo Murilo Rosa, vai até ao céu conversar com Deus (aqui interpretado pela Zezé Motta), informar sobre seu novo plano de abrir sua própria igreja e expandir sua dominação por toda a mídia humana. 

Se A Cabana tem a Octavia Spencer, nós temos a Zezé Motta!
Enquanto isso, na Terra, temos a repórter Raquel (interpretada pela Monica Iozzi) que está tentando subir de carreira num grande canal de televisão (que acaba sendo bem uma Globo genérica), ao mesmo tempo que lida com seu chefe (Dalton Vigh) e um ex namorado que trabalha como câmera no mesmo canal (Thiago Mendonça). A história dela se cruza com a do Diabo, quando ela é enviada para fazer uma reportagem especial sobre a nova igreja e como eles está arrebatando centenas de novos adeptos. 


O filme não é muito longo (tem uma hora e 35 minutos) e acaba sendo uma boa sessão de tarde. Um roteiro bem descompromissado (algumas vezes levemente perdido), mas muito engraçado. As partes que envolvem a igreja em si são hilárias. Aqui a direção não poupou esforços em fazer as coisa mais blasfêmica possível, com direito a comunhão com hamburgueres e refrigerante (viva a gula!), fogo para todos os lados e aquela decoração pra deixar a galera desavisada chocada. O Murilo Rosa está solto e muito louco na interpretação do Diabo. Tem várias partes impagáveis como a entrevista que ele cede para a televisão, com direito a flashback e tudo ou quando ele mesmo resolve comprar o canal e fazer seu próprio programa de entrevistas (o Satan Night Show). Junto a isso temos a trupe de subordinados das profundezas que também não fica atrás: Juliana Alves como Lilith é outro acerto do elenco.


Por outro lado, o grande problema do filme é justamente o elenco "humano" por assim dizer. A Monica Iozzi não é das melhores atrizes e está bem perdida. A personagem dela em si já não é muito bem construída: a questão toda é que Rachel deseja subir de carreira (o que acaba acontecendo quando o Diabo assume o comando do canal de TV), mas sua ascenção acaba por prejudicar os outros personagens, deixando a personagem num dilema. Seria uma ótima premissa, mas não é muito bem desenvolvida. Fora que o roteiro em si se perde em alguns momentos. O início é bem engraçado, mas o fechamento da história para os personagens que estão na Terra é meio desconexo do resto da trama. Diferente do final do Diabo que acaba mantendo boa parte da ideia original de Machado para o conto.

Enfim, mesmo não tendo um roteiro primoroso e tendo um final meio perdido, A Comédia Divina é uma ótima produção nacional (coisa que as vezes acaba sendo raridade) e eu realmente recomendo a todos.


Trailer

Gerente de projeto, editor de video, de áudio, podcaster, escritor (sem nada publicado) e cozinheiro quando dá tempo.

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