[Garoto Pai D'égua] O Ovo Apunhalado - Caio Fernando Abreu



Título:
O Ovo Apunhalado
Autor:
Caio Fernando Abreu
Editora:
Agir
Onde Comprar:
Submarino | Saraiva | FNAC

O livro mais underground do poeta da angústia.

Anjos, monstros devoradores, alucinações muito reais. Os seres fantásticos que povoam este livro são constituídos de mistérios. Suas rotinas triviais foram recriadas na forma de epopéias transformadoras, despidas dos disfarces que arrastam os seres humanos no cotidiano. Uma obra que mostra que o grotesco não está em tais seres. Está em não saber vê-los.
   
Quando primeiro se pensa em Caio, é impossível não lembrar das suas frases de impacto espalhadas em perfis adolescentes - e outros nem tão adolescentes assim - pelas diversas redes sociais. Em companhia com a famigerada Clarice Lispector, Caio Fernando permeia entre os about me e as mensagens pessoais de quase todo o sujeito pensante pela internet. Não os culpo, Caio sempre soube o que escrevia e deveria ser ciente do poder que suas palavras causariam em simples indivíduos como nós. Pelo contrário, convido-os a conhecer o Caio que está além dos 140 caracteres do Twitter e que transpõe as imagens compartilhadas pelo Facebook.

O Ovo Apunhalado, terceiro livro de Caio Fernando Abreu, presenteia o leitor com 21 contos, divididos em três partes: ALFA, BETA e GAMA. O livro foi primeiro publicado em 1975, refletindo os acontecimentos vigentes da sociedade da década de 70, e não muito tempo depois foi alvo da censura, tendo alguns de seus trechos cortados e três contos excluídos, o que levou a ser republicado em 1984.
O livro conta com um universo fantástico que captura o leitor a partir do primeiro parágrafo e o carrega por diferentes estados de excitação. Os personagens trazem consigo uma carga de emoção e intimismo que mesmo sendo os desejos e aflições exprimidos da sociedade da década de 70, conseguem atravessar os degraus do tempo e fazer com que o leitor de hoje se sinta desnudado e descrito pelo próprio Caio - o que talvez justifique as frases perambulantes pelas redes sociais.

Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente.

Os contos são ricos em fantasia e são habitat de criaturas como anjos, homenzinhos verdes e gravatas assassinas. Parece surreal de início, mas, naquela época de censura, o sobrenatural não passava de um pretexto para dizer coisas que jamais seriam ditas em termos realistas. Mais do que um simples pretexto, o fantástico acabava por ser um combate sutil a uma ou outra censura.
Os três contos que, na minha opinião, merecem destaque são: Oásis, Gravata e Retratos. Oásis por conseguir despertar minha imaginação e me levar de supetão a minha época de menino; Gravata por deixar tão expostas as garras do consumismo; e Retratos por se revelar tão esclarecedor quanto a atrocidade do tempo. Porém, acima de tudo, o mais encantador é a pluralidade desses e dos outros contos presentes na obra, que tomam formas variadas e suportam todo o tipo de interpretação. Por todos esses motivos, deixo a dica: deixem-se inocular pelo vírus chamado Caio Fernando Abreu e degustem da obra fruto do boom da literatura brasileira.




Formada em administração de empresas, tem fascinação por aprender idiomas (nem sempre é bem sucedida, mas vale a tentativa). É apaixonada por livros, fez muitos amigos por causa deles, e os usa para conhecer novos lugares e realidades. É também uma ARMY orgulhosa.

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