Eu Li: Corpos secos - Luísa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Polesso e Samir Machado

Título:
Corpos secos
Autores:
Luísa Geisler
Marcelo Ferroni
Natalia Polesso
Samir Machado
Editora:
Alfaguara
Ano:
2020

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Uma doença fatal assola o Brasil e o transforma em uma terra pós-apocalíptica: sem governo, sem leis e sem esperanças. Os sobreviventes tentam cruzar o país em busca de um porto seguro.
Primeiro, o uso de novos agrotóxicos sem os devidos testes. Depois, a reação inesperada com as larvas que eles deveriam dizimar. Não se sabe quem foi o primeiro infectado, apenas que o surto começou no Mato Grosso do Sul. São os chamados corpos secos: espectros humanos que não possuem mais atividade cerebral. Mas seus corpos ainda funcionam e anseiam por sangue.
Seis meses depois, há poucos sobreviventes. Um jovem aparentemente imune à doença está sendo estudado por uma equipe médica e precisa ser protegido a qualquer custo; uma dona de casa vive em uma fazenda no interior do Brasil e se encontra sozinha precisando reagir para sair de seu isolamento; uma criança vê a mãe tentar de tudo para salvar a família e fugir do contágio; uma engenheira de alimentos percebe que seus conhecimentos técnicos talvez não sejam suficientes para explicar o terror que assola o país. Juntos, eles vão narrar suas jornadas, em busca do último refúgio ao sul do país. Escrito em conjunto por quatro autores, Corpos secos não é só um thriller, nem um romance-catástrofe. É uma narrativa sobre os limites da maldade humana, e as chances de redenção em meio ao caos.

 Um livro intrigante para a atualidade, sem dúvida. 
"Corpos secos" vai tratar de uma epidemia que assolou o país e desconstruiu a nossa sociedade em poucos meses. 
A história foi escrita antes do nosso próprio drama real com a pandemia do coronavírus e acredito que foi uma aposta corajosa - e acertada - da editora de publicá-lo neste momento. É importante constar, no entanto, que pode conter gatilhos para quem está depressivo nesse período de isolamento pois são algumas histórias de solidão, violência e desesperança. 

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O livro tem 04 autores e tudo leva a crer que eles se dividiram para construir os 04 personagens-narradores. Mateus, Murilo, Constância e Regina são pessoas com realidades distintas que, ao final, se transformam na única coisa que eles precisam ser: sobreviventes. 

A epidemia de Corpos secos se deu pelo consumo de agrotóxicos nos alimentos diários dos brasileiros (que medo!) e quando desenvolvida a doença, as pessoas se transformam em uma especie e zumbi (apesar de não ser usado esse termo). Uma vez infectado, a pessoa é perdida pois sua textura é transformada em basicamente galhos de árvores - daí o termo corpo seco - que vai se esvaindo até explodir e espalhar esporos, que são altamente contagiosos para quem está por perto. Além disso, os corpos secos atacam outras pessoas de forma violenta. 
Apesar de não ser abordado no livro detalhes de como o Brasil se transformou em uma terra arrasada, as informações sobre as transformações e os exemplos de ataques na história nos dá muitas pistas de como chegou ao ponto que conhecemos na narrativa. 

Cada personagem nos dá a sua percepção de como lida com a epidemia. 
Mateus é um rapaz que foi infectado porém não desenvolveu a doença, portanto, ele é precioso para a possibilidade de uma cura. Sua narrativa começa dentro de um hospital onde ele é tratado por diversos médicos que estudam o seu caso. 
Ele é perseguido por um "Pastor dos mortos", alguém que parece ter o domínio dos corpos secos e sempre que tem a oportunidade os conduz para perto de Mateus. 
Murilo é uma criança e irmão de Mateus. Ele reside com a mãe e a família no que parece ser um centro militar. Mas eles não estão seguros e decidem partir em busca de um abrigo que ofereça segurança. 
Constância é uma mulher que também busca segurança e está em companhia de seu irmão gêmeo. Juntos eles vão ver de perto o fim-do-mundo. 
Regina é uma dondoca, esposa de fazendeiro que terá a vida virada de cabeça para baixo após ser obrigada a fugir de suas terras por causa de ataques de corpos secos. Ela chegará em outra fazenda onde será usada de forma vil e viverá um pesadelo que jamais imaginaria. 

Todos eles tem algo em comum: buscam segurança em Florianópolis, pois pelo rádio souberam que há uma base livre dos corpos secos e, quem sabe, lá poderão recomeçar. Porém, os sofrimentos da trajetória os transformará para sempre. 

"Corpos secos" é um livro inquietante, principalmente para os dias de hoje. 
Ele fala sobre mudanças imperativas e sobre como as pessoas lidam e se transformam mediante tais mudanças. 
Cada personagem traz seu sofrimento brutal. É importante constar que não é bom se apegar a ninguém nesse livro pois os autores não pensam duas vezes e dar cabo das pessoas.
Os capítulos são divididos entre as narrativas dos protagonistas e já como são quatro pessoas, sempre que estava chegando em um clímax tenso partíamos para a outra narrativa, principalmente no começo. Após passar os capítulos vamos nos familiarizando com seus histórias, seus companheiros de viagens e compartilhamos de suas angustias e dúvidas. 
No entanto, por serem muitos protagonistas, não temos todas as respostas que suas histórias provocam e que me deixou a sensação de incompletude. 

Apesar desse pesar, "Corpos secos" segue sendo uma leitura instigante que nos convida a refletir a nossa sociedade e a nós mesmos frente aos desafios mais assustadores. 
Um livro que vale a pena conhecer. 

leiam


Assistente social apaixonada por livros. Militante da transformação social através da literatura.

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