#Diferentona 04 - Lolita - Vladimir Nabokov


Título: 
Lolita
Autor: 
Vladimir Nabokov
Editora: 
Alfaguara 

Lolita é um dos mais importantes romances do século XX. Polêmico, irônico, tocante, narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, 12 anos, uma ninfeta que inflama suas loucuras e seus desejos mais agudos.
A obra-prima de Nabokov, agora em nova tradução, não é apenas uma assombrosa história de paixão e ruína. É também uma viagem de redescoberta pela América; é a exploração da linguagem e de seus matizes; é uma mostra da arte narrativa em seu auge. Através da voz de Humbert Humbert, o leitor nunca sabe ao certo quem é a caça, quem é o caçador.

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta (...)"
Assim inicia-se a história da desenfreada paixão de Humbert Humbert por Dolores Haze (Dolly - Lô - Lola - Lolita), uma menina de 12 anos.
Essa não é uma história de amor e aborda uma temática polêmica; confesso que fiquei bastante dividida como livro. O autor, Vladimir Nabokov, trata o tema de forma direta, embora... lírica. A narrativa é de uma beleza impressionante; isso significa que o autor consegue nos contar uma história doentia de uma forma bela.

Antes de conhecer Lolita, Humbert Humbert, nosso narrador doente (e ele tem plena consciência disso), claramente mostra ao leitor sua predisposição à pedofilia.
Ok, Lolita não é um poço de ingenuidade. Mas levemos em consideração que temos apenas a perspectiva de um homem cheio de desejo (ou seja, não confiável). H.H. a denomina de "ninfeta" (uma criança por volta dos doze à quartoze anos que seduz homens mais velhos com artifícios de uma mulher madura) e, claro, só quem tem olhos meticulosos perceberia esse fato. Portanto, para H.H. era visível a malícia provocativa de Lolita, apesar de seu natural comportamento tempestuoso.

H.H. casou-se com a mãe da ninfeta apenas para tê-la por perto, mas acabou enviuvando em um tempo curtíssimo, podendo, assim, tomar Lolita para si. Pois com ela "tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo sempre".
A rotina de H.H. e Lolita, por dois anos, foi a estrada. Entre hotéis, passeios, vontades feitas, Lolita o satisfazia (sim, sexualmente). E também é apresentado ao leitor, embora não explícito, todos os momentos críticos da relação deles.
Entendam, a partir do que nos é apresentado, nenhum dos dois personagens centrais nos inspira moralismo. A interação deles é algo interessante de se ler e, por vezes, é possível que o leitor esqueça que Lolita é apenas uma criança, mas H.H. não deixa essa ilusão se firmar, pois sua condição sempre ascende.

A proposta de Nabokov com esse tema ousado desperta no leitor sentimentos diversos. É compreensivo e aceitável a condição de H.H? Será que a ninfeta realmente aprecia o que lhe foi imposto? Apesar de Lolita ser descrita como uma ninfeta, por vezes o narrador nos mostra sua infantil fragilidade; assim como expõe que sua preferência por práticas sexuais estão além de seu controle.
O interessantíssimo e desesperador do livro é que H.H., apesar de seus terríveis atos, nos escreve sobre Lolita com um amor avassalador.

"Eu te amava. Não passava de um monstro pentápode, mas te amava. Fui desprezível e brutal, e torpe, e tudo o mais, mas je t'aimais, je t'aimais! E houve momentos em que sabia como te sentias, e a consciência disso era um inferno, minha pequena (...)".

Com uma escrita espetacular, Nabokov nos atrai para um universo complexo e incomodo. Quem, como eu, achar a temática pesada e repulsiva, vai ser enredado pela prosa lírica do autor. Narrativa essa conhecida por autorias russas.
"Lolita" é um livro grandioso que nos mostra o lado de dentro da imoralidade doentia, porém involuntária, de H.H. É impressionantemente angustiante. 
Recomendo muito.


Assistente social apaixonada por livros. Militante da transformação social através da literatura.

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