Eu li: As Tumbas de Atuan - Ciclo de Terramar #2 - Ursula K. Le Guin

Que livro maravilhoso!

Título: As Tumbas de Atuan
Autora: Ursula K. Le Guin 

Editora: Arqueiro

Série: Ciclo de Terramar

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Quando Tenar é escolhida como suma sacerdotisa, tudo lhe é tirado: casa, família e até o nome. Com apenas 6 anos, ela passa a se chamar Arha e se torna guardiã das tenebrosas Tumbas de Atuan, um lugar sagrado para a obscura seita dos Inominados.
Já adolescente, quando está aprendendo os caminhos do labirinto subterrâneo que é seu domínio, ela se depara com Ged, um mago que veio roubar um dos maiores tesouros das Tumbas: o Anel de Erreth-Akbe.
Um homem que traz a luz para aquele local de eternas trevas, ele é um herege que não tem direito a misericórdia.
Porém, sua magia e sua simplicidade começam a abrir os olhos de Arha para uma realidade que ela nunca fora levada a perceber e agora lhe resta decidir que fim terá seu prisioneiro.
Finalista da Newbery Medal, que premia os melhores livros jovens de cada ano, As Tumbas de Atuan dá continuidade ao elogiado Ciclo Terramar com uma singela história que rompeu com os paradigmas de heroína quando foi lançada.


O Ciclo de Terramar é uma série de fantasia que está lá nos primórdios e serviu de inspiração para muita coisa que temos hoje na literatura fantástica. Na resenha do primeiro livro (que você pode ler aqui) citamos vários desses exemplos. Agora, no segundo livro da série (que não é exatamente uma continuação direta) temos um foco um pouco diferente do primeiro.

As Tumbas de Atuan tem um peso muito grande na literatura fantástica: escrito no ano de 1971, o livro é um dos primeiros (senão o primeiro) exemplar de fantasia a trazer uma protagonista feminina. Nesse livro, apesar de ocorrerem várias aparições do protagonista da primeira trama, Gavião/Ged, a personagem principal é Arha. Escolhida ainda criança como a sucessora da sumo sacerdotisa de um culto muito antigo, ela é tirada de sua família para ser educada e treinada como a líder e protetora das Tumbas de Atuan. O lugar esconde vários tesouros antigos e alguns poderes perdidos no tempo, dentro de um labirinto ao qual nenhum homem deve ter acesso. Eis que certo dia, Arha encontra dentre as tumbas o mago Gavião/Ged que está em busca de um poder muito antigo e tudo o que ela acredita e conhece a vida inteira, pode vir a cair por terra.
A Terra é linda e luminosa e bondosa, porém não é só isto. A Terra também é terrível e obscura e cruel. O coelho grita ao morrer nas campinas verdes. As montanhas cerram suas mãos enormes, cheias de fogo oculto. Há tubarões no mar e há crueldade nos olhos dos homens. E, quando os homens cultuam essas coisas e se humilham diante delas, é aí que o mal se reproduz.
É interessante notar que na edição do Brasil há um posfácil escrito pela própria autora em que ela explica que nunca foi a ideia dela continuar escrevendo história do mundo de Terramar. Quem lê o primeiro livro percebe que há duas pequenas referência ao título do segundo, mas, Ursula fala que o desejo dela era unicamente escrever um final sonoro e reverberante. Eis que, As Tumbas de Atuan, realmente não tem a pegada de continuação que nós vemos atualmente nas séries de fantasia. O ínício, inclusive é até meio lento. A parte da infância de Arha e a explicação do que representa o culto às Tumbas de Atuan e aos Inominados parece um tanto arrastada pois você não consegue vislumbrar onde a trama vai fazer referência ao livro anterior.

Entretanto, após a primeira aparição de Gavião e algumas linhas de diálogo, é fácil retornar para a história do primeiro livro. É admirável, inclusive, imaginar que a autora não tinha pensado nessa continuação, pois, a trama é tão bem amarrada, que a sensação é que tudo estava planejado desde sempre. Importante destacar também, a evolução do texto da Ursula, que está bem mais descritivo (as partes que se passam dentro das tumbas são espetaculares) e como ela sabe manter aquele tom poético da magia sem ser extremamente piegas.

A protagonista não é exatamente um exemplar de girl power. E nem deveria ser, afinal, ela é imatura, inocente e ainda bem jovem. Há toda uma construção de personagem sobre Arha que torna completamente plausíveis todas as decisões que ela toma ao longo do texto. E mesmo assim, ao final do livro (calma que não é nenhum spoiler) você percebe que ela ainda tem muito a crescer.

Enfim, é um livro para você ler bem rápido (tem 156 páginas), se divertir e sofrer com os infortúnios de Arha. E já ficar ansioso pelo próximo (acelera aí, Arqueiro!).


Gerente de projeto, editor de video, de áudio, podcaster, escritor (sem nada publicado) e cozinheiro quando dá tempo.

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