Eu Li: Se Eu Ficar e Para Onde Ela Foi - Gayle Forman

O que dizer de um livro que desperta sentimentos tão paradoxais?

Gayle Forman me ganhou em sua narrativa sensível e bonita, cheia de música e bons sentimentos. No entanto, esses livros também trazem uma certa inquietação. São questionamentos que, honestamente, nunca pensei que fossem rodear em minha cabeça. Mas os livros fazem isso. Eles, por mais simplórios que possam parecer, nos tiram da nossa zona de conforto e nos fazem pensar, questionar, nos confrontar.

Sei que algumas pessoas não deram nada para "Se Eu Ficar" por ser um ~romance de menininha~, porém esse livro mexeu comigo de diversas maneiras, e vou expor o porquê:

“Se eu ficar” é um livro sensível no ponto certo. Entendam, algumas pessoas podem achar que é cruel perder toda a família em um acidente de carro - e de fato é muito cruel -, no entanto, o que a autora expõe não é a perda em si. O que quero dizer é que esse não foi um livro feito para chorar (tipo Nicholas Sparks), por mais que seja meio inevitável. A narrativa é fundamentalmente a perspectiva de Mia sobre sua vida, sua família, seus amigos, seu amor pela música e por Adam, e no que interferiria ficar neste mundo sem sua família, ou ir para junto deles. Mia perdeu tudo, mas ainda resta coisas para ela nesse mundo, e ela vai ter que decidir o que será feito.

A música é sua vocação. Mia toca violoncelo, mesmo em meio a uma família roqueira, e sempre se sentiu meio estranha por isso. Então o que dizer quando ela se apaixona perdidamente por um guitarrista de uma banda de rock?

Adam é adorável e ama a música com o mesmo nível que Mia. Mesmo que sejam categorias diferentes, eles se entendem perfeitamente nessa linguagem do amor pela música. Talvez esse seja o ponto de atração principal entre os dois e é muito bonito de ver a evolução da relação. Temos uma visão completa da vida de Mia através de seus próprios olhos, enquanto ela está em coma depois do acidente.

Não tem nada de espírita ou autoajuda, por mais que Mia ande em espírito pelo hospital tentando acompanhar os enlaces das pessoas que a amam e que ficaram. É doloroso sentir sua dor pela perda terrível que ela sofreu e as dúvidas que rondam sua cabeça.

É tão mais fácil ir. É tão mais fácil acompanhar sua família. Mas e sua vida? E sua música? E Adam?

*Chorando*
"Tudo bem. Se você quiser partir. Todos nós queremos que você fique. Eu quero que você fique mais do que já desejei qualquer outra coisa na minha vida. Mas esta é a minha vontade e vejo que talvez possa não ser a sua. Então, eu só queria dizer que entendo se você decidir partir. Tudo bem se tiver de nos deixar. Tudo bem se você decidir parar de lutar.”

"Se eu ficar" é um livro agridoce porque não importa qual seja a escolha de Mia, sempre irá faltar algo nela. E por mais que eu tenha frisado o romance acima, há muitos sentimentos fortes que envolvem a família e seus amigos. Mesmo que o livro termine rápido, o leitor consegue sentir o peso de todo os sentimentos envolvidos. É cruelmente bonito.

A adaptação de "Se eu ficar" estreou ano passado e gostei bastante. Muito do livro está na produção, mas recomendo a leitura, pois podem ter alguns excessos no filme que não condizem com a obra.

"Para onde ela foi" é a continuação de "Se eu ficar".

Para ser bem honesta, achava desnecessário uma continuação para a história. "Se eu ficar" acabou super bem, na medida do possível. Mas aí eu li "Para onde ela foi" e, enquanto eu chorava de puro amor, fui mudando de ideia.

Entendam, a escolha de Mia desencadeou uma série de eventos que eu poderia apenas imaginar, mas a autora me mostrou o rumo que as coisas tomaram para sua história.

Esse livro é da perspectiva de Adam, 3 anos depois do acidente de Mia. E tudo mudou. Tudo.
Agora Adam é o guitarrista e vocalista de uma banda super famosa e as consequências desse sucesso não são nada do que ele esperava. Adam amava a música. Amava os sentimentos que fluíam dele através dos acordes de sua guitarra. Porém, o mercado é cruel. As intrigas, os ciúmes, a ansiedade e, sobretudo, a saudade fizeram de Adam uma pessoa completamente diferente daquele que conhecemos em "Se eu ficar".

Mia se ausentou completamente da vida de Adam e ele nunca soube porquê. E nunca superou.

O sucesso do seu primeiro CD foi consequência da dor que ele sentia por Mia ter ido embora. Eram letras raivosas, cheia de sentimentos e que fizeram um sucesso estrondoso. Agora Adam foge dos fotógrafos inconvenientes, toma remédios para ansiedade e fuma. E, o mais desconcertante, ele não sente mais a música com prazer. Tudo perdeu o sentido e ele não consegue recuperar isso.

Mas o destino se interpôs e Adam acaba entrando em um concerto em que Mia estará tocando. Ele não queria apertar mais a ferida, não queria confrontá-la - não mais -, apenas ouvi-la era o suficiente. Porém, Mia fica sabendo que ela está no concerto e pede para ele ir ao camarim. O reencontro foi doloroso e, claramente, nenhum dos dois estava pronto para ele.

Enquanto Adam e Mia passeiam pela cidade de New York em plena madrugada, Adam vai lembrando o que aconteceu para tudo chegar onde chegou. O leitor é apresentado a sua raiva pelo seu ponto de vista cheio de angustia. A narrativa é repleta de lembranças, de sentimentos e de música.

"Olho para ela nas sombras da cidade fechada, se cabelo caindo sobre o rosto, e posso vê-la tentando descobrir se eu pirei. E tenho de lutar com a vontade de pegá-la pelos ombros e batê-la contra um prédio até sentirmos as vibrações passando por nós. Porque de repente eu quero ouvir seus ossos chacoalharem. Quero sentir a maciez de sua pele ceder, ouvi-la perder o ar com meus quadris batendo nela. Quero puxar a cabeça dela até seu pescoço ficar exposto. Quero passar minhas mãos pelo cabelo dela até que sua respiração fique difícil. E quero fazê-la chorar e lamber as lágrimas dela. Então quero levar minha boca à dela, devorá-la viva, transmitir rodas as coisas que ela não pode entender." 

"Para onde ela foi" é o desfecho de uma história que acabou sem um fim. É a resposta do que aconteceu com Mia depois daquela tragédia e de como isso afetou o mundo a sua volta. É um livro com sentimentos raivosos e latentes que exigem respostas que não foram dadas. "Para onde ela foi" partiu meu coração do começo ao fim. Adam ficou transtornado e dói ver uma pessoa adorável (como ele era em "Se eu ficar") se transformar em alguém completamente sem rumo. Sua conclusão é linda de morrer e chorei horrores, amigos!

Gayle Forman realmente sabe escrever uma boa história no tom certo de sensibilidade sem muito apelo. São histórias bonitas, mesmo que sejam tristes. Quero ler tudo que tem disponível dessa autora para ontem!

Ainda não ouvi falar sobre a adaptação de "Para onde ela foi" mas, se tiver, preparem os lencinhos! Em breve terá resenha de "Apenas um dia", também lançado pela Editora Novo Conceito no país, aqui no blog.

E vocês, já leram algum livro da autora?
Dividam comigo aqui nos comentários!
Tem que ler imediatamente!
Fernanda Karen Estudante de Serviço Social com o coração no curso de Letras. Apaixonada por séries, dramas e café. Bookaholic  irrecuperável e promíscua literária. Eventualmente estou trocando um de meus rins por livros muito desejados. (Qualquer coisa é só entrar em contato). Amo YA, ficção-fantasia, clássicos (brasileiros, portugueses, ingleses, latinos etc), chick-lits... Perceberam que meu preconceito literário é zero? Ops, quase zero; não leio auto-ajuda.
 

Assistente social apaixonada por livros. Militante da transformação social através da literatura.

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