#Diferentona 01 - O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez


Título: 
O amor nos tempos do cólera
Autor: 
Gabriel García Márquez
Editora: 
Record 

Ainda muito jovem, o telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio Garciá se apaixonou por Luiza Márquez, mas o romance enfrentou a oposição do pai da moça, coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior numa viagem de um ano. Para manter seu amor, Gabriel montou, com a ajuda de amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luiza onde ela estivesse. Essa é a história real dos pais de Gabriel García Márquez e foi ponto de partida de "O amor nos tempos do cólera", que acompanha a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza.

Olá, leitores!
Vamos inaugurar a coluna #Diferentona com um livro que AMO e configura na lista dos meus favoritos da vida.
"O amor nos tempos do cólera" é grandioso. Saindo de mim, pode até soar exagerado mas... não.
O autor, Gabriel García Márquez, ou Gabo para os íntimos (eu), foi vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982 e isso não foi aleatório, amigos. 
O livro em questão foi lançado em 1985 e conhecemos a história de amor e solidão de Florentino Ariza pela singular Fermina Daza; um amor obstinado que espera mais de meio século para se tornar possível.
Um amor de cartas, corações partidos, lágrimas e serenatas que despertou em mim algo indescritível. 
Mais que uma história de amor, o livro narra as histórias dos amores que surgiram por causa de um amor infeliz; alguns fatos tão fugazes, outros tão intempestivos... essa linha atemporal que o autor nos joga mexe com os sentidos e, sobretudo, com os sentimentos.

"Florentino Ariza não deixara de pensar nela um único estante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias."

A narrativa é em terceira pessoa e várias perspectivas nos são apresentadas, o que é interessante pois conhecemos os personagens intimamente e nos deparamos com os ~erros~ das perspectivas de outros personagens. 
O melhor exemplo é Fermina Daza. Ela é idealizada por Florentino Ariza; sua "deusa coroada" sem erros, nem mácula. Porém, ao leitor é apresentado uma Fermina humana, palpável. 
A passagem do tempo do livro nos inspira muito também. A maturidade faz bem à Florentino Ariza. Sua percepção de mundo com relação aos amores amplia os horizontes e o deixa mais compreensível e tolerável. Talvez até demais. 

"O coração tem mais quartos que uma pensão de putas...", de fato, Florentino. De fato.

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Gabriel García Márquez é conhecido como o percursor do Realismo Fantástico. Ele inclui elementos do imaginário popular e os torna possíveis em seus histórias. Em "O amor nos tempos do cólera" o imaginário dos personagens é cheio de superstição, mas claro que também há os que sempre tem uma resposta racional para os questionamentos. Na verdade, temos os dois extremos bem representados no livro. 
É fabuloso como os personagens, e seus sentimentos, são reais. Florentino Ariza inicia um tolo passional. Ele se apaixonou por Fermina Daza desde a primeira vez que a viu, e a partir dessa primeira troca de olhares sua vida seria vivida em função dela.
Fermina Daza também se deixa encantar pelos arrombos das paixões juvenis, mas ao contrário de Florentino Ariza, sua ilusão passou. 

"... ao contrário daquela vez não sentiu agora a comoção do amor e sim o abismo do desencanto. Num instante teve a revelação completa da magnitude do próprio engano, e perguntou a si mesma, aterrada, como tinha podido incubar durante tanto tempo e com tanta ferocidade semelhante quimera no coração."

Fermina Daza segue em frente. Casa com Juvenal Urbino e vive os altos e baixos do casamento enquanto Florentino Ariza vira o comedor oficial da cidade; um comedor muito discreto, porém. 
Dentre personagens tão diferentes vemos fragmentos de pessoas muito reais. 
Sempre digo que eventualmente me dou licença poética para amar personagens que eu jamais me relacionaria na vida real e Florentino Ariza se enquadra, com certeza. Inicialmente, seu romantismo exacerbado e, talvez, irritante? Bem, claro que depende do ponto de vista do leitor e sou bem Fermina Daza nesse aspecto. (RÁ!)
Fragilidade, fúria, sinceridade, frieza... a percepção honesta dos personagens está aberta na narrativa, mas a humanidade escancarada de Fermina Daza em particular me encanta. Eu faria tudo que ela fez.

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Sobre o desespero amoroso de Florentino Ariza: pode parecer meio doentio (ok, é completamente doentio), mas por que é tão bonito e aceitável? O universo que Gabriel García Márquez criou inspira aceitação (nesse aspecto do sentimentalismo pois existem outros elementos na história que me são inaceitáveis). 
Não pensem que a história é água com açúcar ou coisa parecida. A prosa de Gabo é apaixonante sim, mas também (deliciosamente) dolorosa e com forte cunho realista. O autor nos presenteia uma história crua sobre personagens que sentem demais. É incrível a distância que o narrador mantém de seus relatos e é incrível a maneira que ele expõem o amor e a dor de maneiras tão ARGH!

"Mas o exame revelou que não tinha febre, nem dor em nenhuma parte, e a única coisa que sentia de concreto era uma necessidade urgente de morrer. Bastou ao médico um interrogatório insidioso, primeiro a ele e depois à mãe para comprovar uma vez mais que os sintomas de amor são os mesmos do cólera."

"O amor nos tempos do cólera" tem um enredo fantástico (adjetivo) e a prosa poética de Gabo acrescenta um ar de fascinação. É meio difícil de explicar a sensação mas, acreditem, é maravilhosa. 
Este foi o primeiro livro de vários que li do autor e fiquei em êxtase; os demais só serviram para pavimentar um caminho de admiração por sua linda prosa e por suas histórias incríveis. 

Espero que tenham gostado e anotem a dica ♥


Assistente social apaixonada por livros. Militante da transformação social através da literatura.

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