Eu Li: O que há de estranho em mim - Gayle Forman

Titulo: 
O que há de estranho em mim
Autora:
Gayle Forman
Editora:
Arqueiro
Ao internar a filha numa clínica, o pai de Brit acredita que está ajudando a menina, mas a verdade é que o lugar só lhe faz mal. Aos 16 anos, ela se vê diante de um duvidoso método de terapia, que inclui xingar as outras jovens e dedurar as infrações alheias para ganhar a liberdade. Sem saber em quem confiar e determinada a não cooperar com os conselheiros, Brit se isola. Mas não fica sozinha por muito tempo. Logo outras garotas se unem a ela na resistência àquele modo de vida hostil. V, Bebe, Martha e Cassie se tornam seu oásis em meio ao deserto de opressão. Juntas, as cinco amigas vão em busca de uma forma de desafiar o sistema, mostrar ao mundo que não têm nada de desajustadas e dar fim ao suplício de viver numa instituição que as enlouquece.

Conheci Gayle Forman através de “Se eu ficar”. Posso até estar enganada, mas creio que a autora estourou no Brasil com a efusão que foi a adaptação do filme para o cinema. Depois li “Apenas um dia” e assim começou uma relação de muito amor com a autora. Gosto de como Gayle Forman é sensível no ponto certo; ela não é melosa, nem irritante. Todas as duas histórias tem um quê de drama que não excedem, apenas acertam.

“O que há estranho em mim” é a primeira ficção da carreira da autora e finalmente chegou em terras tupiniquis pela Editora Arqueiro. O outro livro lançado pela editora no Brasil foi “Eu estive aqui” e não tive uma opinião tão favorável com ele quanto os outros livros de Forman, mas todos os relacionamentos tem altos e baixos, não é mesmo? Comecei o livro com um pé meio atrás, com medo de decepcionar, porém Gayle Forman não é dessas, meus queridos.

A história vai nos apresentar Brit. Ela é uma jovem de 16 anos que tem cabelo colorido, tatuagem e toca numa banda. Aparentemente, isso fazia dela uma problemática porque seu pai resolveu mandá-la para Red Rock, um centro de tratamento residencial - com o intuito de ajudá-la. Acontece que o tal centro é uma fraude. As meninas não tem acompanhamento adequado e parece que estão num campo de concentração ao invés de um tratamento. Mas Brit descobre que não está sozinha.

V, uma garota que já sabe de praticamente todos os truques de Red Rock; Martha, uma moça gorda, mas aparentemente é um problema tão sério para a mãe que merece internação; Bebe, filha de uma atriz rica que foi pega transando com o limpador de piscina e a mãe a mandou para Red Rock para controlar seu ~excesso sexual~ (mesmo que ela afirme que o problema da mãe é que o limpador de piscina era mexicano); e Cassie, que foi pega pelos pais beijando uma garota na praia e foi internada por desvio sexual. 
Todas essas garotas, como a própria Brit, tem seus problemas, questionamentos e, acima de tudo, suas personalidades marcantes e Red Rock, com seus tratamentos altamente duvidosos, quer acabar com tudo e deixar apenas robôs programados em seus lugares. Juntas, as cincos amigas vão se ajudar para manter a sanidade e lutar por uma resistência em meio a toda a hostilidade de Red Rock.

“... Quem eram os doidos de verdade? Martha ou os pais dela, obcecados pela magreza? Cassie ou seus pais homofóbicos? V ou os pais ricaços, que nem lembravam que tinham uma filha? Bebe ou a mãe que mal parava em casa e só queria saber de cosméticos? Eu ou meu pai, que gostava de se iludir? Quanto mais pensava nessas coisas, mais a chama dentro de mim era atiçada... Os adultos tinham abandonado seu papel, buscando refúgio num casulo de ignorância para depois dizer que os filhos eram desajustados. Não dava para confiar neles. Não havia mais ninguém para nos orientar, para cuidar da gente. Então só nos restava uma coisa: cuidar de nós mesmas.”

O interessante é que Brit deixa claro que algumas das internas realmente precisam de ajuda. E em suas notas, Gayle Forman também comenta que, infelizmente, existem centros de tratamentos fraudulentos que prejudicam as pessoas de forma profunda. Mas nossas queridas personagens encontram força umas nas outras e nos presenteiam com uma história de descobertas e pertencimento. Afinal, pessoas também podem ser lares.

A narrativa é em 1ª pessoa e Gayle Forman escreve de uma forma muito gostosa e fluída; sem falar que o enredo de “O que há estranho em mim” é um verdadeiro presente. Há muito mais que cinco amigas rebeldes lutando em um lugar ruim e a autora aborda de uma forma bem franca todas as dores e delicias que cada personagem acarreta. Amei o livro. Estamos namorando de novo, Gayle Forman.

“Naquele momento de maior fraqueza,/ Quando você se encontra abatida/ E não consegue enxergar com clareza,/Achando que não há mais saída,/Quando não tem mais gás,/Antes de ceder à escuridão,/Se você olhar para trás,/Vai encontrar a minha mão.” 
Tem que ler ♥

Assistente social apaixonada por livros. Militante da transformação social através da literatura.

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